28/12/2008

Exercícios sobre a Idade Média


QUESTAO 01

A epidemia que, no século XIV, matou metade do clero da Inglaterra e da Alemanha, mutilou a força de trabalho da Europa, direcionou o mundo por caminhos imprevistos. Os médicos abandonaram os dogmas e começaram a dissecar corpos humanos. O espírito de aventura estimulou o homem a ver o mundo de modo diferente.
Veja - Especial do Milênio, p. 98 - adaptado.

Julgue os itens relacionados à situação da Europa, no tempo a que o texto se refere.

1. Escravos deixam seus senhores para trabalhar nas terras de quem pagasse mais.
2. A revolução que explodiu, em 1383, em Portugal, colocou no poder a Dinastia de Avis.
3. A bússola chega à Europa, vinda da China, e permite aos portugueses mais velocidade nas navegações.
4. Enfraquecimento do controle da Igreja Católica quando padres morrem, atacados pela Peste Negra, considerada castigo de Deus.
5. O aperfeiçoamento dos métodos científicos, criação dos primeiros hospitais e isolamento de doentes.

A Peste Negra só não pode ser associada ao item
a) 1.
b) 2.
c) 3.
d) 4.
e) 5.

QUESTÃO 02

Triste e aborrecida é a penosa lembrança da mortandade que a peste causou há pouco tempo. A cada um, e a todos que a viram, ou souberam dela, ela prejudicou. Tínhamos atingido já o ano bem farto da encarnação do filho de Deus, de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florença, cuja a beleza supera a de qualquer outra da Itália, sobreveio a mortífera pestilência.

(Adaptado de: Giovanni Boccacio. Decamerão. São Paulo, Abril Cultural, 1971, Col. Os Imortais da Literatura Universal, p. 13 – 14.)

O texto acima refere-se:

a) A revolução de Avis, que foi responsável por substituir a velha nobreza portuguesa por uma nova nobreza, formada pela camada mercantil;
b) A peste negra, que no século XVI, matou cerca de 25 milhões de habitantes por toda a Europa, provocando uma série crise em Portugal;
c) A guerra dos Sete Anos, entre Portugal e Itália, provocou em Portugal uma verdadeira crise espalhando a peste entre a população portuguesa;
d) As invasões bárbaras, que causou em Portugal a morte de milhões de pessoas, devido às doenças trazidas pelos bárbaros.


QUESTÃO 03

Entre os séculos V e XV, a Europa Ocidental tinha sua economia organizada de acordo com o modelo feudal.

Assinale a afirmativa que contenha características do feudalismo.

a) Teocentrismo, economia comercial, sociedade democrática, trabalho escravo, descentralização política.
b) Antropocentrismo, economia agrícola de subsistência, sociedade democrática, trabalho servil, poder centralizado.
c) Antropocentrismo, economia baseada na produção manufatureira, sociedade estamental.
d) Teocentrismo, economia agrícola de subsistência, sociedade estamental, trabalho servil, descentralização política.


QUESTÃO 04

O período histórico conhecido como feudalismo, apresenta-se dividido em dois períodos: a Alta Idade Média e a Baixa Idade Média.

Numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª, levando em consideração os fatores que caracterizam cada uma das fases do feudalismo.

A - Alta Idade Média ( ) Surgimento da burguesia.

B - Baixa Idade Média ( ) Feudalização a partir das invasões normandas, húngaras e mulçumanas.

( ) Ruralização a partir da desagregação do Império Romano do Ocidente.

( ) Ampliação do comércio com a realização das cruzadas.

( ) Fim das invasões bárbaras e aumento da produção agrícola.


Assinale:

a) A, B, B, A, B.
b) B, A, A, B, B.
c) A, A, B, B, A.
d) B, B, A, A, B.

QUESTÃO 05

Todas as alternativas apresentam transformações relacionadas ao renascimento comercial, EXCETO

a) Do século XI ao XIII a produção européia se expandiu muito, possibilitando o desenvolvimento de algumas práticas que mais tarde dariam origem ao capitalismo.
b) Muitas pessoas abandonaram os feudos para se dedicarem a outras atividades, dando origem a classe dos mercadores.
c) A expansão do comércio contribuiu para o surgimento das feiras, que eram mercados temporais em alguns lugares especiais como na Champagne francesa.
d) As especiarias tornaram-se a principal exportação da Europa para o Oriente, superando os artigos mais tradicionais como madeira, sal, óleo e vinho.

Religião na Idade Média

Breve resumo sobre a Idade Média


Características:


O feudalismo tem início com as invasões germânicas (bárbaras ), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente (Europa). As características gerais do feudalismo são: poder centralizado nas mãos dos senhores feudais, economia baseada na agricultura (feudos) e utilização do trabalho dos servos.

O Feudo na Idade Média:
Os feudos na Idade Média eram inicialmente os primeiros refúgios dos nobres romanos que fugiam de ondas de ataque bárbaras. Com o tempo, formou-se o que chamamos de Sistema feudal, onde havia um Senhor Feudal que seria "superior" ao seu vassalo, o servo (o qual representa a população que também fugiu das cidades em busca de segurança). Isso se via em toda esta região da Europa. Os bárbaros passaram a adotar costumes romanos, e acabaram por aderir a este tipo de Sistema.
O feudo caracterizava-se por ser uma extensão de terras de um nobre, que possuía uma moradia (talvez um castelo) que tinha em volta várias áreas de plantio, que eram cultivadas pelos servos. Pelo contrato entre eles, o servo deveria trabalhar nas terras do Senhor Feudal, dando-lhe em troca parte da colheita, enquanto que o Senhor Feudal lhe permitia usar suas terras e lhe dava proteção quando ocorriam ataques ao feudo. Isso tudo se manteve por muito tempo, pois a Igreja e o Rei tinham relações muito fortes: o Rei dava toda liberdade para o clero, enquanto que a Igreja dizia que "o rei é um enviado de Deus". Como ela tinha muita liberdade, ela infiltrou-se em todo feudo, tornado-se um laço de união entre todos. Segundo ela, tudo ocorria pela vontade Deus, o que influenciou muito para que houvesse a sociedade estamental(característica de uma sociedade em que não se muda de classe social), afirmando assim ainda mais o Sistema Feudal. Tudo isso só começa a mudar com os primeiros indícios das Revoluções Burguesas.


Origem


Com a decadência e a destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do século V d.C. (de 401 a 500), como conseqüência das inúmeras invasões dos povos bárbaros e das más políticas econômicas dos imperadores, várias regiões da Europa passaram a apresentar baixa densidade populacional e baixo desenvolvimento urbano. Isso ocorria devido às mortes provocadas pelas guerras, às doenças e à insegurança existentes logo após o fim do Império Romano. A partir do século V d.C., entra-se na chamada Idade Média, mas o sistema feudal (Feudalismo) somente passa a vigorar em alguns países da Europa Ocidental a partir do século IX d.C., aproximadamente.
O esfacelamento do Império Romano do Ocidente e as invasões bárbaras que estavam em diversas regiões da Europa favoreceram sensivelmente as mudanças econômicas e sociais que vão sendo introduzidas, principalmente na Europa Ocidental, e que alteram completamente o sistema de propriedade e de produção característicos da Antigüidade. Essas mudanças acabam revelando um novo sistema econômico, político e social que veio a se chamar Feudalismo. O Feudalismo não coincide com o início da Idade Média (século V d.C.), porque esse sistema começa a ser delineado alguns séculos antes do início dessa etapa histórica (mais precisamente, durante o início do século IV), consolidando-se definitivamente ao término do Império Carolíngio, no século IX d.C.
Em suma, com a decadência do Império Romano e as invasões bárbaras, os nobres romanos começaram a se afastar das cidades levando consigo camponeses (com medo de serem saqueados ou escravizados). Já na Idade Média, com vários povos bárbaros dominando a Europa Medieval, foi impossível unirem-se entre si e entre os descendentes de nobres romanos, que eram donos de pequenos agrupamentos de terra. E com as reformas culturais ocorridas nesse meio-tempo, começou a surgir a idéia de uma nova economia: o feudalismo.


Sociedade:


A sociedade feudal era composta por três estamentos (três grupos sociais com status fixo): o Lord, a nobreza, os camponeses e os Vassalos. Apresentava pouca ascensão social e quase não existia mobilidade social( a Igreja foi uma forma de promoção, de mobilidade).
• O clero tinha como função oficial rezar. Na prática, exercia grande poder político sobre uma sociedade bastante religiosa, onde o conceito de separação entre a religião e a política era desconhecido. Mantinham a ordem da sociedade evitando, por meio de persuasão e criação de justificativas religiosas, revoltas e contratações camponesas.
• A nobreza (também chamados de senhores feudais) principal função guerrear, além de exercer considerável poder político sobre as demais classes. O Rei lhes cedia terras e estes lhe juravam ajuda militar (relações de suserania e vassalagem).
• Os servos da gleba constituíam a maior parte da população camponesa, eles eram presos à terra e sofriam intensa exploração, eram obrigados a prestarem serviços à nobreza e a pagar-lhes diversos tributos em troca da permissão de uso da terra e de proteção militar. Embora geralmente se considere que a vida dos camponeses fosse miserável, a palavra "escravo" seria imprópria. Para receberem direito à moradia nas terras de seus senhores, assim como entre nobres e reis, juravam-lhe fidelidade e trabalho.
• Os Vassalos oferece ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem estendiam-se por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso.
Economia e prosperidade
A produção feudal própria do Ocidente europeu tinha por base a economia agrária, de escassa circulação monetária, auto-suficiente. A propriedade feudal pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da Igreja (o clero) e longínquos descendentes dos chefes tribais germânicos. As estimativas de renda per capita da europa feudal a colocam em um nível muito próximo ao minímo de subsistência.
A principal unidade econômica de produção era o feudo, que se dividia em três partes distintas: a propriedade individual do senhor, chamada manso senhorial ou domínio, em cujo interior se erigia um castelo fortificado; o manso servil, que correspondia à porção de terras arrendadas aos camponeses e era dividido em lotes denominados tenências; e ainda o manso comunal, constituído por terras coletivas –-- pastos e bosques --- , usadas tanto pelo senhor quanto pelos servos.
Devido ao caráter expropriador do sistema feudal, o servo não se sentia estimulado a aumentar a produção com inovações tecnológicas, uma vez que tudo que produzia de excedente era tomado pelo senhor. Por isso, o desenvolvimento técnico foi pequeno, limitando aumentos de produtividade. A principal técnica adaptada foi a de rotação trienal de culturas, que evitava o esgotamento do solo, mantendo a fertilidade da terra.
Para o economista anarco-capitalista Hans Hermann Hoppe, como os feudos são supostamente propriedade do Estado (neste caso, representado pelos senhores feudais), feudalismo é, conseqüentemente, considerado por ele como sendo uma forma de socialismo, o socialismo aristocrático. (servismo)


Tributos e impostos da época


As principais obrigações dos servos consistiam em:

Corvéia: trabalho compulsório nas terras do senhor em alguns dias da semana;
Talha: Parte da produção do servo deveria ser entregue ao nobre
Banalidade: tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens do feudo, como o moinho, o forno, o celeiro, as pontes;
Capitação: imposto pago por cada membro da família (por cabeça);
Tostão de Pedro ou dízimo: 10% da produção do servo era pago à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local;
Censo: tributo que os vilões (pessoas livres, vila) deviam pagar, em dinheiro, para a nobreza;
Taxa de Justiça: os servos e os vilões deviam pagar para serem julgados no tribunal do nobre;
Formariage: quando o nobre resolvia se casar , todo servo era obrigado a pagar uma taxa para ajudar no casamento, era também válida para quando um parente do nobre iria casar.
Mão Morta: Era o pagamento de uma taxa para permanecer no feudo da família servil, em caso do falecimento do pai da família.
Albermagem: Obrigaçao do servo em hospedar o senhor feudal .


Muitas cidades européias da Idade Média tornaram-se livres das relações servis e do predomínio dos nobres. Essas cidades chamavam-se burgos. Por motivos políticos, os "burgueses" (habitantes dos burgos) recebiam freqüentemente o apoio dos reis, que muitas vezes estavam em conflito com os nobres. Na língua alemã, o ditado Stadtluft macht frei ("O ar da cidade liberta") ilustra este fenômeno. Em Bruges, por exemplo, conta-se que uma certa vez um servo escapou da comitiva do conde de Flandres e fugiu por entre a multidão. Ao tentar reagir e ordenar que perseguissem o fugitivo, o conde foi vaiado pelos "burgueses" e obrigado a sair da cidade, em defesa do servo, que se tornou livre deste modo.


Divisão do Feudo


Manso senhorial (domínio): uso exclusivo do senhor feudal.
Manso servil: arrendada aos servos e dividida em tenências.
Manso comunal: terras comuns (pastos, bosques, florestas)


Ascensão e queda do sistema


O feudalismo europeu apresenta, portanto, fases bem diversas entre o século IX, quando os pequenos agricultores são impelidos a se proteger dos inimigos junto aos castelos, e o século XIII, quando o mundo feudal conhece seu apogeu, para declinar a seguir.
No século X, o sistema ainda está em formação e os laços feudais unem apenas os proprietários rurais e os antigos altos funcionários Carolíngios. Entre os camponeses ainda há numerosos grupos livres, com propriedades independentes. A hierarquia social não apresenta a rigidez que a caracterizaria posteriormente, e a ética feudal não está plenamente estabelecida.
Entretanto, a partir do ano 1000, até cerca de 1150, o Feudalismo entra em ascensão. O sistema define seus elementos básicos. A exploração camponesa torna-se intensa, concentrada em certas regiões superpovoadas, deixando áreas extensas de espaços vazios. Surgem novas técnicas de cultivo, novas formas de utilização dos animais e das carroças. Com as inovações no campo, a produção agrícola teve um aumento significativo e surgiu a necessidade de comercialização dos produtos excedentes, então a partir do século XI, também há um renascimento do comércio e um aumento da circulação monetária, o que valoriza a importância social das cidades e suas comunas. E, com as Cruzadas, esboça-se uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento do feudo. Com o restabelecimento do comércio com o Oriente próximo e o desenvolvimento das grandes cidades, começam a ser minadas as bases da organização feudal, na medida em que aumenta a demanda de produtos agrícolas para o abastecimento da população urbana. Isso eleva o preço dessas mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos para a compra de sua liberdade. Não que os servos fossem escravos; com o excedente produzido, poderiam comprar de seus senhores lotes de terras e, assim, deixar de cumprir suas obrigações junto ao senhor feudal. É claro que esta situação poderia gerar problemas já que, bem ou mal, o servo vivia protegido dentro do feudo. A solução encontrada, quando não se tornavam comerciantes, eram morar em burgos, dominados por outros tipos de senhores, desta vez, comerciais. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio cria novas oportunidades de trabalho, atraindo os camponeses para as cidades.
Esses acontecimentos, aliados à formação dos exércitos profissionais — o Rei, agora, não dependeria mais dos serviços militares prestados por seus vassalos —, à insurreição camponesa, à peste, à falta de alimentos decorrente do aumento populacional e baixa produtividade agrária, contribuíram para o declínio do feudalismo europeu. Na França, nos Países Baixos e na Itália, seu desaparecimento começa a se manifestar no final do século XIII. Na Alemanha e na Inglaterra, entretanto, ele ainda permanece mais tempo, extinguindo-se totalmente na Europa ocidental por volta de 1500. Em partes da Europa central e oriental, porém, alguns remanescentes resistiram até meados do século XX, como, por exemplo, a Rússia, que só viria a se libertar dos resquícios feudais com a Revolução de 1917.

Idade Média - Aula I

Idade Média-Aula II

O Brasil já teve seu "Obama"


O Obama brasileiro


Quem foi Nilo Peçanha, o filho de uma loira com um negro que governou o Brasil durante mais de um ano no início do século XX...
POLÍTICO CONCILIADORNilo se beneficiou da politicagem de sua época. Não combateu o coronelismo nem tentou dar mais direitos aos negros. Apenas buscou redistribuir o poder político para outros Estados, além de São Paulo e Minas Gerais – e não conseguiu.A eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro na história dos Estados Unidos, tem enorme apelo simbólico. Basta lembrar que há 40 anos o negro Martin Luther King, um dos principais líderes do movimento pelos direitos civis, era assassinado em Memphis, no Tennessee. Como nos Estados Unidos, os negros brasileiros também têm uma história ligada à escravidão e à exclusão social. Mas, embora pouca gente saiba, o Brasil já teve seu Obama, um presidente visto como mulato em sua época, que hoje seria considerado negro, ou afro-brasileiro. Seu nome: Nilo Peçanha. O que podemos aprender com sua trajetória?Filho de pai negro e de mãe loira, de olhos claros, Nilo nasceu em 1867, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Foi descrito por seu biógrafo oficioso Brígido Tinoco como “alto, magro, moreno, cabelos ondulados, pequeno cavanhaque e bigodes, extremamente simpático”. Nilo era símbolo típico da política da época – um período em que menos de 3% da população brasileira votava e não havia sombra de movimentos de direitos civis. Ele se elegeu vice-presidente em 1906. Assumiu a Presidência três anos depois, com a morte do então presidente, Afonso Pena.Nilo passou a infância lendo no balcão da padaria do pai, Sebastião. Aos 12 anos, editou um jornalzinho defendendo a república e a abolição da escravatura. O periódico teve uma edição. Logo foi estudar Direito no Recife, hábito dos bem-nascidos de então. Ao voltar para o Rio, participou da fundação do Partido Republicano ao lado do propagandista Quintino Bocaiúva, que depois seria seu padrinho de casamento. De inexpressivo deputado constituinte, em 1891, Nilo passou a renhido oposicionista do presidente Prudente de Morais a partir de 1894. Acusado – segundo alguns historiadores, injustamente – de participar do atentado à vida de Prudente, Nilo teve de se esconder por alguns meses até que, no mesmo dia em que se entregou exasperado à delegacia, descobriu-se anistiado e, em 1898, voltou à Câmara dos Deputados.No governo de Campos Sales, Nilo incorporou rapidamente o espírito governista. Excelente orador, foi um dos porta-vozes de Campos Sales na Câmara dos Deputados. Foi um feroz defensor do impopular plano econômico do ministro Joaquim Murtinho. Tratava-se de diminuir despesas, decretar impostos, vender ou arrendar bens nacionais, suprimir arsenais de guerra. Tinha 31 anos e era membro da Comissão de Orçamento. Tentava trocar “a preocupação doentia dos partidos pela preocupação elevada das finanças”, como afirmou em discurso.Saiba maisO Brasil já teve seu "Obama"Ele teve, ao longo de sua trajetória, uma preocupação incessante com finanças públicas, algo raríssimo na época. Foi como deputado de oposição, durante o governo de Prudente de Morais, que começou a se preocupar com o tema. Ao analisar o orçamento para o Ministério do Exterior (equivalente ao de Relações Exteriores hoje), esbravejou ao ver jornais franceses contemplados com verbas brasileiras.Como governador do Rio de Janeiro, em 1903, suas primeiras medidas foram demitir 400 servidores, eliminar repartições e rescindir contratos da administração anterior. Cortou o próprio salário em 25%. (Recentemente, a revista eletrônica americana Slate sugeriu que o presidente Obama, para adequar-se ao espírito de tempos austeros, abrisse mão do salário...) Depois de 11 anos de déficits no Estado, 1904 terminou em superávit de 1.500 contos de réis.Nilo Peçanha tinha uma preocupação incessante com finançaspúblicas, algo raro em seu tempo.Nilo beneficiou-se indiretamente da politicagem de sua época, elegantemente chamada por historiadores de “política dos governadores”. Iniciada por Campos Sales, ela consistia num conjunto de normas e práticas políticas informais que estabilizaram o relacionamento entre o poder federal e os Estados. O presidente da República reconhecia e apoiava as oligarquias regionais, atendendo a suas indicações e favores pessoais. Os governadores ganhavam porque podiam, em paz, dominar seus Estados por longos períodos. O presidente não era atrapalhado por conflitos regionais nem chamado a resolver contendas delicadíssimas e violentas entre candidatos a oligarcas.Com essa política, São Paulo e Minas Gerais se revezavam, indicando presidentes, cabendo o papel de vice-presidente a figuras politicamente menores, fortes em outros Estados. Político hábil e conciliador, à época governador do Rio de Janeiro, Nilo foi eleito vice-presidente do mineiro Afonso Pena em 1906. Durante o governo, seu papel estava mais para Itamar Franco, o vice de Fernando Collor, do que para Dick Cheney, o atuante vice de George W. Bush. Nilo não era bem-visto pela oligarquia cafeeira que apoiara Pena à Presidência – e houve rápida menção de destituí-lo quando o presidente morreu em 1909. Nilo assumiu mesmo assim.Seu período na Presidência não se destaca por posições duras. Ele não combateu o controle das eleições por coronéis e fazendeiros nem ficou conhecido por tentar dar mais direitos e benefícios a negros e pobres. Expressou, apenas, a vontade – malsucedida – de redistribuir poder político a Estados, além de São Paulo e Minas Gerais. Criou o Ministério da Agricultura, tentativa de federalizar algumas decisões que cabiam a governadores, sobretudo paulistas e mineiros. Iniciou o repasse de recursos federais a Estados do Norte e Nordeste. Governou um ano e cinco meses com o slogan “Paz e amor”. Se Lula e Duda Mendonça usaram essas palavras para se referir as campanhas políticas sem insultos, Nilo as usava para dizer que gostaria de evitar interferências federais em questões estaduais. Assistiu a rebeliões na Bahia, em Goiás, no Amazonas e Rio de Janeiro. Pouco influenciou a sucessão, embora tenha apoiado o militar Hermes da Fonseca contra o civil Rui Barbosa. Sua carreira política terminou em 1922.


Trecho da reportagem da revista Época, publicada no dia 28 de novembro de 2008, texto de Sérgio Praça.